Por José Maria
“É A CRISE…” Está aí uma expressão que se espalhou como manteiga
em pão quente. De altos executivos a donas de casa, todos conseguem descrever
os efeitos nefastos da CRISE, seja na economia do país ou no orçamento
doméstico. Agora… Se conseguem descrever porque sentiram na pele ou apenas
porque ouviram o presidente de uma grande companhia lamentar o PIB em declínio
na revista X ou assistiram a mãe de família reclamar sobre o preço do tomate na
reportagem da televisão G, é uma questão que levanta certa reflexão. De todo
modo, se a CRISE de fato existe ou foi midiaticamente construída, é um debate
que eu deixo para os alinhamentos políticos decidirem. Para nós, que
trabalhamos/ estudamos a forma como os conteúdos se disseminam, o que importa é
que, sem dúvida, a CRISE é um conceito muito real, presente e espalhado por
todo esse pãozinho quentinho (ou seria “em ebulição”) chamado Brasil.
Se dissemina com facilidade pois é um conteúdo que traz certa
notabilidade interna (MOEDA SOCIAL), o que acaba por torná-lo uma desculpa
rápida para os problemas do dia a dia (GATILHO); traz alta carga emotiva,
principalmente negativa (EMOÇÃO); modifica hábitos (VALOR PRÁTICO) e os torna
visíveis através de resíduos comportamentais (PÚBLICO), tudo isso embalado por
narrativas (HISTÓRIA) de empresas que fecharam as portas, famílias endividadas,
cartões de crédito estourados. É interessante perceber, que cada um desses
atributos (MOEDA SOCIAL, GATILHOS, EMOÇÃO, VALOR PRÁTICO, PÚBLICO, HISTÓRIAS)
são trabalhados, voluntária ou involuntariamente, pelos diversos atores desse
processo de difusão do conceito (eu, você, Dona Quitéria da feira, Amigo 732 do
Face, Dilma, Bonner, etc.), fazendo-o cada vez mais presente e tornando-o,
portanto, altamente compartilhável. E nós, comunicadores e profissionais de
marketing, somos agentes de destaque nesse processo. Temos a técnica e as
ferramentas (sem falar na responsabilidade, é bom frisar) para transformar
ideias em verdades, e contribuir ainda mais para fazer o “É A CRISE…” palavra
“doce” nesse pão repleto de manteiga.
Curioso para saber como a “manteiga” (= conteúdos) se espalha?
No dia XX, o I Encontro de Comunicação e Marketing realizará o mini- curso “Os
6 passos para o compartilhamento”. Baseado nos conceitos de John Berger (2015),
eu, José Maria Mendes* trabalharei de forma dinâmica e prática como os 6 passos
para conseguir o que o autor chama de “conteúdos altamente compartilháveis”. E,
até lá, tentarei destrinchar, em postagens aqui mesmo, cada um desses
atributos. Uma discussão essencial, especialmente para os estudantes e
profissionais da publicidade e do marketing, que lidam todo dia com a CRISE,
não só essa que se espalha como manteiga, mas também a CRISE de atenção dos
consumidores e seus milhares de dispositivos de mídia, assim como a CRISE de
credibilidade pelaqual passam os tradicionais discursos de valorização de
marca.
*José Maria Mendes é professor em cursos de Publicidade e
Propaganda e doutorando pelo Programa de Comunicação da UFPE, no qual estuda o
consumidor participativo e suas estratégias de apropriação e disseminação dos
conteúdos publicitários através das mídias sociais.
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